“O LESTE ESTÁ A FUGIR DO OCIDENTE”
O Leste está a fugir do Ocidente
Nos últimos dias, dois eventos marcaram o cenário político internacional, evidenciando o afastamento crescente de certos países face ao mundo ocidental: a detenção de Ekrem İmamoğlu, na Turquia, e os protestos massivos na Sérvia, desencadeados pelo desabamento do teto de uma estação de comboios recém-construída.
No caso turco, a detenção de İmamoğlu representa mais um passo no caminho autoritário seguido por Recep Tayyip Erdoğan. O presidente da Câmara de Istambul, uma das figuras mais proeminentes da oposição, foi condenado e detido num processo que muitos consideram politicamente motivado. Esta situação não só levanta sérias dúvidas sobre a independência do sistema judicial turco, como demonstra uma tentativa sistemática de silenciar adversários e consolidar o poder de Erdoğan. Ao desafiar abertamente os valores democráticos, a Turquia distancia-se cada vez mais do Ocidente, tornando praticamente impossível qualquer futura adesão à União Europeia. O desrespeito pelo Estado de direito e pelas liberdades fundamentais afasta o país dos princípios que definem as democracias ocidentais e reforça a sua deriva autoritária.
Já na Sérvia, a revolta popular que se seguiu ao colapso do teto de uma estação de comboios recém-inaugurada é um reflexo da frustração crescente com a corrupção e a má governação. O desabamento expôs não só falhas graves na construção, mas também um sistema onde a transparência e a prestação de contas são constantemente ignoradas. Milhares de sérvios saíram às ruas para denunciar a cumplicidade do governo de Aleksandar Vučić com empresários próximos do poder, num esquema de adjudicação de contratos que prioriza interesses privados em detrimento da segurança e do bem-estar da população. Este episódio, tal como a repressão política na Turquia, é mais um sinal de afastamento dos padrões de governança ocidentais e das exigências da UE em matéria de Estado de direito.
Tanto na Turquia como na Sérvia, o desrespeito pelos valores democráticos e pela transparência coloca estes países num caminho de isolamento. Ao insistirem em desafiar os princípios fundamentais que regem o mundo ocidental, afastam-se não só da União Europeia, mas também de um futuro onde poderiam ser reconhecidos como democracias plenamente consolidadas. Se esta trajetória continuar, é provável que ambos enfrentem não só um distanciamento político e diplomático, mas também consequências económicas, à medida que a confiança internacional nos seus governos se deteriora.